A próstata pode provocar inúmeras queixas (que, em linguagem médica, se designam por “sintomas”).
Estes sintomas, no entanto, não são específicos da próstata, ou seja, não são provocados apenas por este órgão. Podem ser causados por qualquer outro factor que cause uma obstrução à saída, à drenagem, da urina da bexiga, por doenças da uretra, por doenças da bexiga e mesmo por doenças que aparentemente não têm qualquer relação com o aparelho urinário, como, por exemplo, a Diabetes e outras doenças metabólicas, doenças neurológicas como a doença de Parkinson, os acidentes vasculares cerebrais (AVCs), lesões da medula e esclerose múltipla, entre muitas outras. Todas estas doenças podem provocar queixas iguais ou muito semelhantes às provocadas pela próstata. Por isso, nem sempre é fácil saber se um determinado sintoma é provocado pela próstata ou por uma destas doenças.
Por este motivo, o conjunto de sintomas que a próstata pode provocar e que antigamente se designavam por “prostatismo” são agora designados por “LUTS”, ou seja, sintomas do aparelho urinário inferior (sigla que tem origem no inglês “Lower Urinary Tract Symptoms”). Esta designação é a mais correcta e a que actualmente se deve utilizar, porque traduz com maior rigor o facto destes sintomas poderem ter origem noutro órgão que não a próstata.
Por outro lado, os “sintomas da próstata” não são específicos de doenças benignas ou malignas.
Assim, um mesmo sintoma pode traduzir um simples aumento benigno do volume da próstata, mas pode também ser provocado por um cancro deste órgão.
Para complicar um pouco mais a questão, doenças graves da próstata (como o cancro da próstata ou o aumento benigno mas já com complicações graves) podem evoluir silenciosamente, isto é, sem se manifestarem clinicamente, sem provocarem quaisquer queixas.
Em fases precoces, quer do cancro quer do aumento benigno, a grande maioria dos doentes não têm quaisquer queixas. Por isso, apenas é possível suspeitar-se do diagnóstico de um cancro da próstata, por exemplo, através da realização de exames como o toque rectal e o doseamento do PSA.
Se um homem apresenta sintomas urinários, a causa dessas queixas tem obrigatoriamente de ser investigada, não podendo as mesmas ser, à partida, atribuídas à próstata e ao seu aumento. Com efeito, elas tanto podem ser desencadeadas por esse “simples” aumento benigno (HBP), como serem provocadas por um cancro deste órgão, por uma estenose da uretra (um estreitamento, um aperto, ou seja, uma redução do calibre da uretra) ou por qualquer outra causa de LUTS.
Os sintomas provocados pela próstata – conhecidos como LUTS – podem ser divididos em três grandes grupos:
O jacto urinário é mais fraco e mais fino; a “pressão” do jacto é menor. Os homens têm a perfeita percepção de que “o jacto já não é como era” e, progressivamente, deixa de se projectar para longe e começa a “cair para os pés”. O curioso é que a maioria dos homens aceita esta alteração progressiva (tal como outras relacionadas com o aparelho urinário, a próstata ou o aparelho genital) como fazendo parte normal do envelhecimento. É muito frequente os homens referirem “é claro que não posso querer urinar como se tivesse 20 anos!”, ou “claro que já não urino como aos 20 anos!”, como se isso fosse uma alteração normal. Este facto só acontece porque, em conversas com outros homens da mesma idade, amigos e colegas, muitos se queixam (ou melhor, não se queixam, constatam) as mesmas alterações. Estas não são de todo “normais”, embora possam ser – e são, de facto – muito frequentes. Ou seja, são queixas “habituais”, frequentes, mas não “normais”, o que é uma diferença muito importante.
Ocorre quando se tenta iniciar a micção e se verifica uma dificuldade em começar a urinar. Apesar da vontade de urinar, os doentes demoram alguns segundos ou mesmo minutos, a começar a urinar. Muitas vezes, quanto maior a vontade, quanto mais cheia está a bexiga, maior a dificuldade em iniciar a micção.
Sendo o jacto mais fino e fraco - o que tem a ver com o facto do calibre da uretra estar reduzido, ao atravessar a próstata (pelo aumento de volume desta) e com a menor capacidade da bexiga se contrair para expulsar a urina (uma das consequências que o aumento de volume da próstata tem sobre a bexiga e o seu funcionamento) - a velocidade de esvaziamento da bexiga está muito diminuída. Ou seja, o tempo que a bexiga demora a esvaziar é muito superior ao normal, a duração da micção é muito prolongada.
Ocorre quando a micção é interrompida, ou seja, não se dá um esvaziamento da bexiga de uma só vez. Durante a micção, o jacto para e após uma ou mais pausas, de duração variável, a micção reinicia-se. Por vezes, apesar de se urinar por diversas vezes, a bexiga não fica completamente vazia, o doente não fica com a sensação de ter esvaziado completamente a bexiga – ver à frente “sensação de esvaziamento incompleto da bexiga”.
Esta queixa ocorre quando o doente precisa de “fazer força” para urinar. Se a obstrução ao esvaziamento da bexiga é significativa e/ou a bexiga não contrai o suficiente para expulsar a urina para o exterior, o aumento da pressão sobre a bexiga, que se consegue com a contração dos músculos abdominais, contribui para melhorar o esvaziamento deste órgão. A contração destes músculos provoca um aumento da pressão abdominal. Este aumento tem como efeito final o aumento da pressão sobre a bexiga, que é um órgão oco e no interior do qual está a urina. Assim, é como se se espremesse a bexiga, ajudando a “empurrar” a urina, através da uretra, para o exterior.
Por vezes, quando o aumento de volume da próstata provoca uma marcada obstrução e dificuldade de esvaziamento da bexiga, esta vai ficando sempre “semi-cheia”, nunca esvaziando. Se este problema se prolonga, a bexiga vai distendendo cada vez mais, ficando com cada vez mais urina retida e, num certo ponto, como que “transborda”, ou seja, a capacidade de distensão atinge o seu limite e, para que a pressão no interior da bexiga alivie um pouco, é eliminada uma pequena quantidade de urina. Estas perdas podem ocorrer de dia ou, frequentemente, de noite. Geralmente são simultâneas com a passagem de urina dos ureteres (os canais que conduzem a urina dos rins até à bexiga) para a bexiga. Esta passagem (diz-se que há uma “ejaculação” de urina para a bexiga) aumenta subitamente a pressão no interior deste órgão oco (como se fosse um balão); para alívio dessa pressão, que a bexiga já não consegue tolerar (ao contrário de um balão, a bexiga em princípio não explode por estar cada vez mais cheia...), ocorre incontinência, ou seja, perda involuntária de urina. Quando ocorre durante o sono o doente pode não acordar pela sensação de bexiga cheia, não tem consciência de ter perdido urina e, quando acorda, já “está molhado”.
Diz-se que há uma “retenção urinária” quando o doente não consegue urinar, apesar da bexiga estar muito cheia. Esta situação ocorre quando a doença da próstata já está avançada, quer dizer, quando já evoluiu durante muito tempo (geralmente meses ou anos). Por vezes, essa evolução é silenciosa e os homens afectados por este problema, infelizmente bastante comum, nem sempre referem – ou valorizam – as queixas prévias. Assim, ocasionalmente, é a primeira manifestação relevante das doenças da próstata. Há factores que podem contribuir para precipitar este acontecimento. Alguns medicamentos, a realização de uma cirurgia (algumas cirurgias e alguns tipos de anestesia têm um maior risco de provocar esta complicação), a ingestão de álcool, uma refeição muito abundante, entre outros, são alguns dos factores que podem contribuir para provocar a “prisão de urina”. É clássico ocorrer após festas ou almoços/jantares especiais (o casamento de um filho/a, um aniversário, a comemoração da reforma...), uma ingestão abundante de líquidos para, por exemplo, efectuar exames que implicam que a bexiga esteja cheia (muitas vezes exames à próstata...), ocorrendo em homens mais frequentemente em homens com cerca de 60 anos de idade e já com queixas provocadas pelo aumento de volume da próstata.
Chamamos ”imperiosidade miccional” à queixa, muito frequente, que os homens afectados por doenças da próstata referem e que consiste na vontade muito súbita, inadiável, de urinar. Muitas vezes, embora nem sempre, associa-se a incontinência (ver abaixo).
Ocorre quer em situações típicas e habituais (é clássico os homens associarem esta queixa, por exemplo, à chegada a casa, ao “colocar a chave na porta”, ao apanhar o elevador para chegar a casa...), quer em situações e momentos imprevistos e não habituais.
Pode ser suficientemente intenso para causar grande desconforto, interromper reuniões, obrigar à saída súbita de salas de aula ou de cinema. É causa de grande desconforto e embaraço e tem repercussões muito marcadas na qualidade de vida dos homens que sofrem deste problema.
Por vezes, se o doente não consegue, em tempo útil, chegar a uma casa de banho, como vimos, pode provocar perda involuntária de urina. No entanto, por vezes, a sensação de micção eminente desaparece após alguns momentos, mesmo que o doente não vá urinar. Esta queixa e o eventual alívio subsequente, explica-se pelas variações de pressão da bexiga. Inicialmente, a pressão aumenta de repente (por uma contração súbita deste órgão), causando a sensação de que a bexiga está cheia – quando por vezes isso não acontece. Na bexiga, existem “sensores” de pressão (terminações nervosas ou “receptores” que são sensíveis à pressão), que transmitem a informação da pressão nas paredes e no interior da bexiga aos centros coordenadores cerebrais, que a processam e “registam” a mensagem”: a bexiga está cheia! É essa, pois, a caus da sensação da replecção, do enchimento da bexiga.
Posteriormente, e porque a bexiga não consegue estar sempre em contracção, a pressão baixa progressivamente, à medida que a contração da bexiga vai diminuindo. Esta baixa da pressão é acompanhada pela sensação de alívio, ou seja, mesmo que o doente não tenha urinado, por vezes a sensação de micção eminente e incontrolável acaba por “passar”, por diminuir ou desaparecer.
Chama-se “polaquiúria” ao aumento da frequência das micções, ou seja, à redução – por vezes muito significativa – do intervalo entre elas. Não é inédito doentes referirem que urinam (por vezes ocasionalmente, apenas de vez em quando, outras vezes diariamente) “de quarto em quarto de hora”. Esta alteração é geralmente, mas nem sempre, progressiva, ou seja, se inicialmente o doente nota que deixou de conseguir “aguentar” 3 ou 4 horas sem urinar, após algum tempo (meses, anos) nota que urina de 3/3 horas, depois de 2/2 horas e mesmo de “hora a hora”.
Ao número de vezes que o doente acorda de noite para urinar chama-se “nocturia”. O número de vezes que cada indivíduo acorda de noite para urinar é muito variável, de pessoa para pessoa e pode variar ao longo do tempo. Por vezes, a existência de outros factores que nada têm a ver com a próstata (maior ingestão de líquidos, ingestão de bebidas alcoólicas, infecções urinárias, medicamentos, doenças como a diabetes, problemas cardíacos ou renais, a existência de edemas – acumulação de líquidos no organismo, com, por exemplo, “inchaço” das pernas, etc.) faz com que os homens possam acordar de noite com necessidade de urinar. Por vezes, a existência de perturbações do sono, como a insónia, por sua vez consequentes a muitos outros factores, fazem com que os homens urinem de noite mais frequentemente do que o normal.
No entanto, a próstata faz com que o número de micções durante a noite vá aumentando progressivamente, à medida que, paralelamente, a dimensão da próstata vai também aumentando. Mesmo assim, nestas circunstâncias, o número de vezes que a pessoas urina pode variar ao longo do tempo, existindo períodos em que esta queixa agrava, e outros em que a pessoa “está melhor”. No entanto, esse número, geralmente, vai aumentando com a idade e consequente aumento de volume da próstata. Não é inédito doentes referirem que urinam seis, sete, oito ou mais vezes por noite com, com é óbvio, franca perturbação da qualidade de vida e do bem estar. Esta queixa, de facto, é uma das que causa mais transtorno aos doentes afectados pelo aumento de volume da próstata.
Como vimos anteriormente, a vontade súbita de urinar é uma queixa frequente dos homens que sofrem de doenças da próstata. Por vezes, a esta vontade súbita, a esta sensação de micção eminente e incontrolável, inadiável, associa-se uma perda involuntária, não controlada, de urina. É, como se percebe facilmente, uma queixa que perturba o bem-estar dos homens afectados, com implicações pessoais, sociais, profissionais que podem ser devastadoras. De facto, não é difícil imaginar as situações embaraçosas que este tipo de queixa pode provocar... Como qualquer tipo de incontinência, o indivíduo fica devastado pela sensação de impotência e de falta de controlo de uma função fisiológica básica e essencial ao bem-estar. No entanto, mais do que outros tipos de incontinência (por exemplo, quando associada a esforços como a tosse, ou espirro, o carregar pesos, designada por incontinência de esforço), o carácter imprevisível e súbito destas perdas podem tornar a vida dos indivíduos afectados pouco menos do que... miserável.
É frequente os doentes com problemas da próstata referirem a queixa de sensação de peso, de desconforto, e por vezes mesmo de dor “hipogástrica”, ou seja, abaixo do umbigo (na zona entre o umbigo e o osso, o púbis, situado logo acima da base do pénis).
Não é geralmente das queixas mais incomodativas uma vez que a intensidade dessa dor ou desconforto é geralmente ligeira (traduzindo-se, como referido, por uma sensação muitas vezes indefinida de peso, de mal-estar local). No entanto, por vezes, pode ser francamente desconfortável e condicionante do bem-estar dos indivíduos afectados.
Deve ser diferenciada da dor, geralmente mais intensa, que pode ocorrer no períneo, ou seja, na zona entre os testículos e o ânus, que tem geralmente outros significados que não apenas um aumento de volume da próstata e as suas repercussões sobre a bexiga.
Trata-se de uma queixa frequente e recorrente dos homens afectados por doenças da próstata. Como a próstata “comprime” a uretra que a atravessa, o calibre desta é reduzido, fazendo com que o jacto seja mais fino e fraco e que a micção demore mais tempo.
Como consequência deste facto, o músculo que constitui a parede da bexiga - que, numa fase inicial, consegue compensar esta obstrução - a partir de certa altura perde alguma da sua capacidade de contração, perde “qualidades” e deixa de conseguir vencer a obstrução. A bexiga deixa assim de conseguir expulsar a totalidade da urina, ficando com alguma urina residual (ou seja, com urina retida no interior da bexiga, no final da micção). Muitas vezes, o doente não tem a percepção de que a bexiga não esvazia e esta alteração é apenas detectada quando se realizam exames ecográficos à bexiga (em que a urina retida na bexiga – o chamado “resíduo pós miccional” – é detectado e medido, quantificado). Com a progressão da doença da próstata, essa sensação, de não esvaziamento, torna-se cada vez mais perceptível e o doente toma progressivamente consciência de que não consegue, por mais que se esforce e por mais tempo que demore o acto de urinar, esvaziar a bexiga.
Esta é uma das queixas clássicas dos doentes com problemas da próstata. Com efeito, o “pingar” no fim da micção é uma queixa quase universal dos homens de idade avançada. À medida que o tempo passa, que a idade evolui, acompanhando o declínio progressivo da força e do calibre do jacto urinário, surge a dificuldade de terminar a micção e o gotejo no final ou após o fim da micção. Estas alterações, como já referido, são de tal modo frequentes que os homens as entendem como “normais”, como fazendo parte do envelhecimento normal, fisiológico. No entanto, não é assim em apesar de ser muito frequentes, estas queixas não são “normais” e representam geralmente algum problema nos mecanismos de regulação e/ou da mecânica da micção, que deve ser avaliada e quantificada, isto é, medida.
É geralmente uma manifestação de fases mais avançadas da doença. Pode ser visível (macroscópica) ou microscópica, ou seja, detectável apenas em análises realizadas à urina (não visível). Pode associar-se à presença de coágulos na urina. Habitualmente é indolor, ou seja, não se acompanha de dor. Pode, no entanto, associar-se a infecções urinárias (também uma das complicações ou consequências de doenças da próstata). Neste caso, os doentes sentem ainda ardor a urinar, aumento da frequência das micções e desconforto na zona abaixo do umbigo (hipogástrica ou supra-púbica).
O aparecimento de sangue na urina pode ser também consequência da existência de pedras (“cálculos”, “litíase”) na bexiga. É possível, no entanto, existirem pedras na bexiga e não se observar sangue na urina. Estas podem não se manifestar ou provocar sintomas semelhantes ao “simples” aumento da próstata – por exemplo, ardor ao urinar, aumento da frequência das micções e urina turva ou com cheiro mais intenso.
As pedras/cálculos na bexiga surgem em consequência de problemas de esvaziamento da bexiga e são uma indicação absoluta para cirurgia da próstata (ver capítulos respectivos). Isto quer dizer que se um doente tiver pedras (“cálculos”) nos rins e estes se deslocarem e chegarem à bexiga são quase sempre eliminados para o exterior (porque o calibre da uretra, o canal por onde a urina sai da bexiga para o exterior, é muito superior ao do ureter, o canal por onde a urina passa desde os rins até à bexiga).
Para se ter cálculos na bexiga, os cálculos formam-se na própria bexiga ou são provenientes dos rins, mas não conseguem ser eliminados para o exterior. É necessário que exista um problema de esvaziamento da bexiga, ou seja, uma dificuldade, uma obstrução à normal drenagem de urina para o exterior. Isto só acontece se existir um obstáculo – ou um aumento da próstata, ou um aperto (“estenose”) da uretra, por exemplo. Este obstáculo faz com que exista urina retida cronicamente na bexiga após a micção, ou seja, nunca ocorre um esvaziamento completo da bexiga, a urina fica “estagnada” e os cálculos vão-se formando e crescendo (podendo atingir grandes dimensões; não é raro observarem-se cálculos de 3, 4, 5 ou mais centímetros de comprimento).
Nestas situações há um aumento da frequência da micções, geralmente um forte ardor a urinar, sensação de não esvaziar a bexiga e de a bexiga “estar sempre cheia” (o doente sente uma vontade muito intensa de urinar e depois parece que apenas “sai” uma pequena quantidadede urina para a vontade que tinha).
Por vezes, surgem dores mais intensas abaixo do umbigo (região supra-púbica, ou hipogástrica) ou na zona entre os testículos e o ânus (zona perineal) e febre. Estes dois últimos sintomas sugerem que podemos estar em presença de uma prostatite. A existência de febre indica que a infecção não é uma infecção urinária “banal”, mas que existe uma complicação da mesma. Pode tratar-se de uma prostatite ou mesmo, eventualmente, de uma infecção do aparelho urinário superior, ou seja, dos rins (designada por pielonefrite). São situações muito mais graves, que podem mesmo necessitar de internamento para realização de terapêutica com antibióticos administrados por via endovenosa (através de “soros”, administrados directamente “nas veias”).
Por vezes, pode surgir apenas um quadro febril, sem manifestações urinárias muito exuberantes. Nestes casos, o diagnóstico pode ser difícil, pelo que é necessário realizar uma investigação cuidada para se conseguir obter o diagnóstico.
Apesar de, felizmente, ser cada vez menos frequente atingir este estado da evolução da doença, por vezes o aumento de volume da próstata causa sintomas de insuficiência renal, provocada pela retenção crónica de urina, primeiro na bexiga, depois com dilatação do aparelho urinário superior (ou seja, ureteres e rins), com consequente mau funcionamento destes órgãos.
Esta complicação apesar de cada vez mais rara, mas ainda ocorre. Nestes casos é necessário realizar uma algaliação de longa duração (geralmente cerca de três meses), até se poder resolver o problema em definitivo (através de operação, que nestes casos é obrigatória. Pode mesmo ser necessária a realização de diálise transitória - ou definitiva - em casos em que os rins não conseguem recuperar e realizar devidamente a sua função em tempo útil.
A HBP pode evoluir raramente de uma forma quase assintomática (silenciosa). Nestes casos, por vezes, a primeira manifestação da doença é uma complicação grave, por exemplo, a já mencionada alteração da função dos rins (insuficiência renal, provocada pela obstrução crónica) ou incapacidade de urinar (retenção urinária aguda).
Além da HBP, existem diversas outras causas para os sintomas “prostáticos” (LUTS – do inglês Lower urinary tract symptoms, significando sintomas do aparelho urinário inferior, o que desde logo indica que estas queixas não são causadas exclusivamente pela próstata.). É por isso necessário efectuar o que se designa por “Diagnóstico Diferencial”, neste caso, da HBP. Isto quer dizer que é preciso perceber se as queixas de um determinado indivíduo são, como é mais habitual, causadas pela HBP ou se, pelo contrário, o mesmo tipo de queixas são provocadas por outras doenças que as podem imitar mas que têm uma abordagem e um tratamento completamente diferentes. Algumas destas doenças são benignas e têm uma evolução favorável, outras no entanto são muito mais graves – ou malignas ou, mesmo se benignas, têm consequências graves se não tratadas a tempo.
Existem diversas outras causas para os sintomas de LUTS. Se um doente desenvolve este tipo de queixas, deve sempre pensar-se em todas estas causas e todas devem ser avaliadas e incluídas no diagnóstico diferencial da HBP. Para se afirmar com certeza que as queixas são causadas pelo aumento de volume da próstata, é necessário excluir todas as outras possibilidades – nomeadamente porque podem traduzir a presença de situações graves.
O toque rectal e o PSA, com posterior biópsia, permitem fazer o diagnóstico desta doença grave, que pode causar LUTS e hematúria (sangue na urina), entre outros, mas pode, também, evoluir de uma forma assintomática, como anteriormente referido.
Uma estenose ou “aperto” (redução do calibre) e qualquer ponto da uretra (desde o meato - ou seja, da abertura exterior da uretra, na glande ou “ponta” do pénis - até à bexiga) podem ser causa de LUTS.
Os melhores exames para diagnosticar e caracterizar esta patologia são a uretrocistografia retrógrada e per-miccional (exame radiológico que utiliza um produto – o contraste – que é introduzido através da uretra) e a endoscopia (uretro-cistoscopia), que é um exame que, além de confirmar a doença, permite ainda, eventualmente, o seu tratamento imediato.
Existem diversas doenças neurológicas que causam a chamada bexiga neurogénica. Exemplos de doenças que causam esta complicação são a esclerose múltipla, a doença de Parkinson, após um acidente vascular cerebral (AVC) ou traumatismos vertebro-medulares, entre outros. Existem outras doenças, não neurológicas, como a diabetes mellitus, que podem provocar as mesmas alterações da capacidade de contração da bexiga (quer aumentando quer diminuindo essa contractilidade) ou da sincronização da contração da bexiga com o relaxamento do esfíncter urinário. Todas estas situações são causa de LUTS.
O tumor maligno ou cancro da bexiga, quer invasivo quer superficial, é uma causa frequente de sintomas “irritativos” (ou de enchimento) e de hematúria (presença de sangue na urina). São necessários exames como a uretrocistoscopia (endoscopia da uretra e da bexiga), a ecografia da bexiga e uma análise de urina especial (citologia urinária) para se poder fazer o diagnóstico destas doenças.
Cálculos na parte final do ureter ou na bexiga podem causar queixas urinárias marcadas; cálculos na uretra podem provocar retenção urinária aguda (“urina presa”). É necessário realizar exames de imagem (por exemplo, uma ecografia, uma radiografia ou TC) ou uma endoscopia da uretra e da bexiga para se fazer o diagnóstico deste problema.
Perto da união da bexiga com a uretra (zona designada por colo vesical) pode existir uma alteração morfológica ou funcional que causa exactamente as mesmas queixas que a HBP. O colo pode estar efectivamente “elevado”, dificultando passagem de urina ou não relaxar convenientemente na altura da micção, causando a mesma dificuldade. Assim se explica que esta alteração possa causar sintomas em tudo idênticos aos provocados pela HBP.
Doenças neurológicas como a esclerose múltipla, a doença de Parkinson, tumores cerebrais, os estados após acidentes vasculares cerebrais (AVC), neurocirurgias ou traumatismos vertebro-medulares, estão frequentemente associados a sintomas urinários semelhantes a alguns dos sintomas causados pela HBP.
A existência de infecção ou de inflamação do aparelho urinário pode provocar sintomas idênticos aos causados pela HBP. As cistites, uretrites ou prostatites, infecciosas ou não, são doenças muito frequentes e é necessário pensar e excluir estas situações se surgirem sintomas urinários ou se ocorrer um agravamento de queixas prévias.