O pilar fundamental do diagnóstico é uma história clínica cuidadosa e um exame objectivo dirigido. Os exames que são pedidos são para confirmar o diagnóstico e detectar/excluir eventuais complicações da doença, resultantes da sua progressão.
Existem vários questionários e índices de sintomas que permitem avaliar de uma forma mais objectiva e quantificável a sintomatologia, podendo ajudar na monitorização da gravidade e evolução da doença. O mais utilizado é o IPSS (International Prostate Symptom Score), que utiliza um conjunto de sete questões relativas aos sintomas e uma pergunta independente sobre a qualidade de vida. Consoante a pontuação obtida a sintomatologia pode classificar-se em:
As alterações vesicais e uretrais induzidas pelo envelhecimento podem causar uma sintomatologia em tudo semelhante à HBP.
O toque rectal, PSA e eventual biópsia devem fazer o diagnóstico desta patologia que pode cursar com LUTS e hematúria.
Estenoses a qualquer nível da uretra (desde o meato até à bexiga) podem ser causa de LUTS. O melhor exame para diagnosticar e caracterizar esta patologia são os exames contrastados - uretrocistografia retrógrada e per-miccional.
Cálculos do ureter terminal e da bexiga podem causar uma sintomatologia irritativa intensa e cálculos na uretra podem mesmo provocar episódios de retenção urinária aguda. Os exames radiográficos (cálculos radio-opacos) ou ecográficos costumam ser suficientes para fazer o seu diagnóstico.
Existem uma série de patologias de causa neurológica - bexigas neurogénicas (esclerose múltipla, Doença de Parkinson, AVCs, traumatismos vértebro-medulares entre outros) ou não neurológica (idiopática, diabetes mellitus) que podem provocar alterações da contractilidade (hiperactividade ou hipocontractilidade) vesical e da sinergia desta com o relaxamento do esfíncter urinário (dissinergia vesico-esfincteriana). Estas alterações podem originar LUTS e ser necessário fazer o seu diagnóstico antes do tratamento da HBP.
Tumores vesicais invasivos ou superficiais originam frequentemente sintomatologia irritativa e hematúria podendo confundir-se com HBP. Uma uretrocistoscopia e citologia urinária ajudam a fazer o diagnóstico.
Sintomatologia provocada por patologia infecciosa ou inflamatória do tracto urinário (cistite, prostatite, uretrite) pode confundir-se com a originada pela HBP. Estudos bacteriológicos podem ser necessários para as excluir. Existem infecções específicas como por exemplo a tuberculose, cujo diagnóstico pode ser difícil.
Na realização da história clínica, devem ser avaliados as queixas referidas pelos doentes, a duração das mesmas, a sua evolução ao longo do tempo e a repercussão que apresentam sobre o bem-estar e a qualidade de vida do indivíduo. Habitualmente os sintomas agravam-se progressivamente com a idade, mas esta não é uma regra absoluta; há situações em que os sintomas estabilizam ou mesmo melhoram espontaneamente. Por vezes, as queixas são flutuantes ao longo do tempo, embora ocorra geralmente um ligeiro agravamento progressivo.
Devem pesquisar-se outras causas possíveis de queixas urinárias, rever os hábitos dos doentes e os medicamentos que toma, a existência das outras doenças ou cirurgias anteriores. Deve ser inquirido se existiu, no passado, alguma algaliação ou infecções da uretra.
Todos estes factores podem contribuir para a existência ou agravamento das queixas provocadas pela HBP.
Na anamnese devem identificar-se outras causas possíveis de alterações da função miccional e co-morbilidades que possam afectar o tratamento, caracterizando a natureza e duração dos sintomas, intervenções cirúrgicas anteriores. Os hábitos do doente devem ser revistos, principalmente os medicamentosos: os anticolinérgicos diminuem a contractilidade vesical e os simpaticomiméticos alfa aumentam a resistência ao fluxo urinário, por exemplo.
A HBP caracteriza-se por um conjunto de sintomas que se instalam de uma forma mais ou menos progressiva e que antes eram chamados de prostatismo, mas que podem ter outras causas. É portanto mais correcto utilizar as siglas LUTS (Lower Urinary Tract Symptoms). Os LUTS classificam-se em sintomas obstrutivos (de esvaziamento), irritativos (de armazenamento) e ainda sintomas pós-miccionais.
O exame objectivo deve avaliar as funções motoras e sensitivas gerais, com um exame neurológico, a região supra-púbica procurando identificar sinais de distensão vesical e um toque rectal.
O exame objectivo deve incluir um exame geral e um exame dirigido, mais específico, do aparelho urinário e da próstata. Além da avaliação do doente, de uma forma global, o exame objectivo deve incluir obrigatoriamente, o toque rectal e um exame neurológico dirigido à região supra-púbica (abaixo do umbigo) e perineal (a zona entre o escroto – a bolsa de pele que envolve os testículos – e o ânus).
A melhor posição para efectuar um toque rectal com intenção de avaliar a próstata é o decúbito dorsal com as coxas em abdução e os joelhos flectidos. Após explicar ao doente em que consiste a manobra e obter o consentimento para a sua realização, o dedo indicador da mão direita, bem lubrificado, deve massajar ligeiramente o esfíncter anal e em seguida introduzi-lo na ampola rectal. A mão esquerda sobre a região supra-púbica permite avaliar simultaneamente a área vesical. O toque rectal permite avaliar a ampola rectal, o tónus do esfíncter anal e as características da próstata:
Na HBP a próstata está aumentada de volume, de consistência duro-elástica, móvel, de limites bem definidos e indolor. Após o toque rectal, um médico com alguma experiência, deve ficar com uma ideia aproximada do volume prostático. Trata-se de um exame fundamental e indispensável, quer para ajudar a excluir o cancro da próstata (ou detectar alguma alteração que possa colocar a suspeita da presença desta doença) quer para avaliar as características do aumento benigno, nomeadamente da dimensão/volume deste órgão.
Não faz qualquer sentido os homens temerem este exame e atrasarem ou evitarem a sua realização – com atrasos por vezes fatais no diagnóstico de doenças graves. Desde que seja efectuado correctamente e por urologistas experientes e cuidadosos, é um exame muito bem tolerado, tão ou menos traumático do que uma ecografia trans-rectal.
As informações que cada um destes exames permite obter são muitas vezes complementares, ou seja, para uma correcta avaliação da próstata (global, integral e adequada).
Apenas com a informação complementar fornecida pelo toque rectal, pela ecografia da próstata, pelo PSA e por exames como a urofluxometria, a medição do resíduo pós-miccional, a ecografia dos rins e outras análises ao sangue e urina (que muitas vezes são necessários), é possível efectuar uma correcta avaliação da situação clínica de um determinado doente.
O Antigénio Específico da Próstata (PSA) é uma glicoproteína que actua como protease e encontrada quase exclusivamente nas células epiteliais da próstata. A sua função é a lise do coágulo de sémen com importância na fisiologia da reprodução. Qualquer alteração na arquitectura da glândula prostática pode originar fugas de PSA para a circulação: aumentando o seu valor sérico. Isto acontece não só no carcinoma da próstata mas também na HBP, prostatite, após retenção urinária, algaliação, instrumentação uretral, traumatismos e biópsias entre outras causas.
Durante alguns anos 4 ng/ml foi considerado o limite superior do valor normal de PSA. Actualmente existe uma tendência para reduzir este limite aumentando assim a eficácia no diagnóstico precoce de carcinoma. No caso de HBP o valor do PSA pode ser utilizado como um indicador indirecto do volume glandular.
Uma vez que a estratégia terapêutica depende, como veremos adiante, do volume prostático e este não pode ser determinado com exactidão através do toque rectal a ecografia prostática pode ser muito útil. A ecografia supra-púbica permite avaliar as dimensões da próstata, pode detectar alterações vesicais (cálculos e divertículos por exemplo) e medir o resíduo pós-miccional. A ecografia transrectal fornece uma medição mais rigorosa do volume prostático e permite detectar alterações da ecogenecidade com maior precisão, mas só deve ser utilizada para dirigir biópsias prostáticas ou para esclarecimento de dúvidas específicas.
A ecografia da próstata é fundamental na avaliação prostática. nos casos de aumento benigno da próstata este exame fornece informação muito útil, quer quando realizada através do abdómen, abaixo do umbigo (designada por “supra-púbica”), quer por via trans-rectal.
Além de fornecer informações sobre as características da próstata (nomeadamente a sua dimensão, forma e eventuais alterações da estrutura), permite ainda determinar informações importantes, como a quantidade de urina que permanece na bexiga depois de uma micção (o chamado “resíduo pós-miccional”). Se a espessura da parede da bexiga estiver aumentada, isto habitualmente significa que existe uma obstrução importante ao seu esvaziamento, condicionada pela próstata. A presença de outras alterações da parede da bexiga, como micro-divertículos (pequenas “saculações” da parede) significa igualmente que a obstrução é tão significativa que já provocou uma deterioração marcada da função da bexiga e da sua capacidade de contrair normalmente e de esvaziar. A presença destas alterações quer dizer que parte das células musculares que constituem a bexiga foram substituídas por células de fibrose, de cicatriz, mais rígidas e sem capacidade de se contrair. O conjunto destas alterações constitui o que habitualmente se designa por “bexiga de esforço”.
Permite ainda determinar o resíduo pós-miccional, ou seja, a quantidade de urina que fica na urina depois de a pessoa urinar. De forma não invasiva, consegue-se saber se a bexiga esvaziou bem ou mal, na totalidade ou não e, neste último caso, a quantidade de líquido que não foi eliminado e ficou retido na bexiga
Este é um exame de realização muito simples, em que o doente apenas tem que urinar para um aparelho que regista o fluxo urinário. Com este exame, obtêm-se dados objectivos acerca do fluxo (que é medido em ml/seg), através de parâmetros como o fluxo máximo, o fluxo médio, o volume de urina que foi eliminado, o tempo que dura a micção ou o tempo que decorre até ao fluxo máximo.
Este exame permite ainda obter um gráfico, a “curva miccional,” cuja forma pode ser mais ou menos característica de um determinado problema: por exemplo, sugerir uma obstrução à saída da urina da bexiga (por HBP ou um aperto da uretra), sugerir a existência de um músculo da bexiga com reduzida capacidade de contração ou de ambos simultaneamente. O conjunto dos dados obtidos ajuda a orientar o diagnóstico e é mais um dado importante a ponderar na determinação da estratégia terapêutica mais adequada.